domingo, agosto 07, 2005

Pérolas aos Porcos

O grande problema de ser sentimental é dedicar-se a quem não merece, ou não compreende. Ser uma pessoa apaixonada demais (por tudo), expressiva demais... me trouxe algumas consideráveis decepções.
O texto abaixo é uma das coisas mais intensas que já fiz, talvez a mais. O destinatário? Costumo pensar q ele não existe, ou só existe na minha cabeça. É menos desapontador assim.

Quatro anos? Sim, se você acredita que as coisas se resumem ao aqui e agora, a essa vida e esse mundo.

Nós, particularmente, sabemos que não é assim. Soubemos desde o primeiro dia e o primeiro beijo. Nunca mais duvidamos: era o destino.

Nos vimos pela segunda vez depois de uma semana, e nesse mesmo dia decidimos: daí pra frente éramos namorados. E aí veio o Eu Te Amo, as cartas, os presentes, as alianças, caras-metades, músicas e declarações.

Descobrimos o que era aquele tal de Amor, soubemos que era possível viver pra fazer o outro feliz e tivemos certeza de que nunca mais poderíamos viver separados. Passamos a estudar, aprender e crescer em função do que seríamos no futuro, em função da vida que construiríamos juntos.



Compartilhamos. Problemas familiares, crises existenciais, provas difíceis, músicas românticas e filmes de todo tipo. Decepções, medos, ciúme, contas, cigarros. Compartilhamos o dinheiro e a falta dele, compartilhamos sofás, colchões, orgasmos e gritos abafados em almofadas. Mas principalmente, compartilhamos sonhos. De uma biblioteca bem grande, de viagens pra Paris, de filhos, banheiras de hidromassagem com espuma, carros conversíveis e carreiras brilhantes. Sonhos de felicidade.



Mas éramos muito jovens. Tínhamos fôlego e hormônios suficientes pra que brigássemos três vezes ao dia e transássemos oito e, no entanto, não tínhamos maturidade e segurança. Não conhecíamos o mundo o bastante pra entender que nada mais era tão puro e simples quanto nós dois.

Foi assim que nos perdemos. Porque era cedo demais, porque era monogâmico e convencional demais. Enfim, porque não há como duas pessoas tão novas se completarem e se bastarem, não no mundo de hoje.



Vieram outros, vieram outras. Mais que isso: veio a distância, crescente e cruel. Seguimos em frente. Estradas diferentes, mesmo sentido e direção. Ficou decidido (mas não por nós dois) que teríamos que teríamos de nos virar sozinhos, que não poderíamos mais contar um com o outro.



E então? Nós burlamos as regras. Decidimos enganar o mundo e continuar dentro um do outro, pra sempre. Definimos os respectivos espaços em ambos os corações, instalamos cerca elétrica em volta do lote e fizemos a última das juras: “Esse pedaço é seu e nada nem ninguém vai mudar isso, eu prometo”.

Ficamos juntos, em espírito, e vivemos felizes para sempre.


Bonito? Como disse a minha irmã, "pegou pesado"? Que nada, utopia....