
Quando você morava dentro de mim a inspiração não faltava em me prestar longas visitas. Mesmo que o tema se resumisse aos seus efeitos colaterais, mesmo que eu nunca soubesse ser racional e equilibrada, mesmo que no fim até eu me cansasse de tanta paixonite.
Não faltavam as cores saturadas, o contraste acentuado, a trilha sonora significativa e poética. Não faltava vida. Agora que ninguém mora aqui por dentro é difícil evitar o vazio. Não que ele me incomode o tempo todo, pelo contrário. Na maioria das vezes é tão mais simples não sentir, ter tempo e condições pra me concentrar no resto do mundo, nas coisas reais, palpáveis e práticas.
Não faltavam as cores saturadas, o contraste acentuado, a trilha sonora significativa e poética. Não faltava vida. Agora que ninguém mora aqui por dentro é difícil evitar o vazio. Não que ele me incomode o tempo todo, pelo contrário. Na maioria das vezes é tão mais simples não sentir, ter tempo e condições pra me concentrar no resto do mundo, nas coisas reais, palpáveis e práticas.
Mas nas noites frias, nos fins de tarde, nos momentos em que o cérebro não vai mais ser usado pra nada importante... nessas horas o vazio tem mais força, chega a cansar um pouco. Sim, pouco, porque eu já me acostumei a tê-lo.
Agora que ninguém me habita eu sinto alívio, aquele alívio dos que optaram por ser mais frios e racionais, aquele alívio quase falso de “raposa e as uvas”. Despeito, talvez. “Nem queria, elas estavam verdes...” Nem queria mesmo essa brincadeira de me apaixonar, isso dá tanto trabalho!
Agora que ninguém me habita eu sinto alívio, aquele alívio dos que optaram por ser mais frios e racionais, aquele alívio quase falso de “raposa e as uvas”. Despeito, talvez. “Nem queria, elas estavam verdes...” Nem queria mesmo essa brincadeira de me apaixonar, isso dá tanto trabalho!
Mas o outro lado, pequeno mas presente, me diz com voz sumida que o frio na espinha e o aperto no estômago fazem falta.
Agora que você, ou melhor, vocês todos já se foram, eu fico de novo só comigo. E a verdade é que já aprendi a gostar de mim, desse jeito aqui, nesse verbo agora, quase incondicionalmente. Tá, talvez o incondicionalmente esteja longe ainda, mas o gostar tá aqui.
É claro que eu queria o desconhecido, o escuro, o abismo próximo, o vento nos cabelos, o perigo iminente de dano, é claro que tenho saudade. Mas não de você, o inventado você que parecia mais uma sombra, um vulto perambulando etéreo pelas minhas entranhas. Saudade de alguém, do indefinido objeto da minha afeição, o mistério da libélula, o desconhecido sabor. Saudade do que ainda não houve, de tudo que eu ainda não vivi, de todo sonho que não se realizou. Saudade do que não existe.
Agora que você, ou melhor, vocês todos já se foram, eu fico de novo só comigo. E a verdade é que já aprendi a gostar de mim, desse jeito aqui, nesse verbo agora, quase incondicionalmente. Tá, talvez o incondicionalmente esteja longe ainda, mas o gostar tá aqui.
É claro que eu queria o desconhecido, o escuro, o abismo próximo, o vento nos cabelos, o perigo iminente de dano, é claro que tenho saudade. Mas não de você, o inventado você que parecia mais uma sombra, um vulto perambulando etéreo pelas minhas entranhas. Saudade de alguém, do indefinido objeto da minha afeição, o mistério da libélula, o desconhecido sabor. Saudade do que ainda não houve, de tudo que eu ainda não vivi, de todo sonho que não se realizou. Saudade do que não existe.