quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Encontros e Despedidas I



Conservavam a tradição de uma longa conversa por ano. Geralmente era a única que tinham. Na verdade ela tinha a tradição de ligar na noite do aniversário dele, não importando onde estavam, se ele tinha ligado no dela, se algum dos dois estava namorando. Ele sempre estava. Ela nunca.

Ela sempre tinha medo de que neste ano não tivessem assunto. Sempre pensava que “nossa, esse ano tanta coisa mudou, acho que não vamos mais ter do que falar... acho que o vínculo se perdeu”. Todo ano ela ficava se enrolando até o fim da noite em receio, às vezes alguma preguiça, algum aperto no estômago. Toda vez sentia um misto de medo e vontade que ele não atendesse.

Ele sempre atendia. O aniversário não era completo se ela não ligasse, e apesar de não ter direito a cobranças, ele sempre passava o dia esperando e se preparando pra ligação anual dela. Sempre se livrava de quem estivesse por perto, sempre se deitava no quarto, ou se sentava na calçada vazia, ou se apoiava na janela da sala. Sempre sozinho.

- Eu vi o DDD e sabia que era você. – ele sempre dizia.
- Claro, você conhece mais alguém que more aqui?
- Pensei que você não fosse ligar, depois que...
- Que você não ligou no meu? Eu sou superior a isso.
Ele sorria. Ela era mesmo, sempre.
- Mas você sabe que eu lembrei né? Você sabe que é impossível não lembrar, não sabe?
- É?
- Claro que é. O seu dia é.... o seu dia.

Ela sempre tinha medo de que dessa vez ele soltasse: “então... eu vou me casar”, ou “dessa vez é sério”, ou algo do gênero. E embora ele tenha dito coisas parecidas, algumas vezes, ela soube, em cada uma delas, que era só ele sendo aquele eterno apaixonado e sempre incapaz de ficar sozinho, mas que ia passar. Mas ainda assim, ela sempre temia que dessa vez, entre namoricos e traições constantes, entre reclamações e frustrações padrões, ele decidisse que a menininha da vez era a escolhida, ou que já era hora.

Ele tinha medo que ela dissesse simplesmente: “tô namorando”. Em todos os anos, essa era a pergunta que ele nunca fazia. Sim, porque ele ainda poderia ter um zilhão de namoradinhas e casinhos antes de “se fixar”, mas ela não. Ela era madura e dedicada demais, e auto-suficiente demais pra ter relacionamentos casuais e sem importância. Ela não precisava. Ela era mulher e forte demais, e já o era aos 15 anos, de modo que ele só podia imaginar o que teria se tornado em oito anos de estudo, independência, desestrutura familiar, capitais, vida no exterior. Ele sabia que uma vez que ela contasse que tinha alguém, era questão de tempo até que ele o convite do casamento chegasse pelo correio. As amigas dela costumavam dizer o mesmo. Ele sabia que era uma questão de tempo antes que um cara qualquer, bom ou mau, mas nunca bom o suficiente, percebesse a raridade que ela era, passasse por cima do medo de ter uma mulher tão grande, e a roubasse pra si. E ele sabia que ela já se achava um pouco velha, que ela já devia procurar, de verdade, alguém pra vida toda. Não como toda menina adolescente sonha, mas como toda mulher busca. Ele sabia, tinha certeza, que o dia se aproximava. E não podia deixar de temer.

De todo modo, ela nunca deixara de ligar, e eles nunca ficaram sem assunto. Em todos os anos, em qualquer lugar, por mais que pudessem ter pensado, questionado ou duvidado, no primeiro minuto era como se nunca tivesse existido distância. Ele estranhava e ria um pouco do sotaque dela, que logo se mesclava ao dele, ela estranhava um pouco a voz, que a princípio parecia um pouco mais grossa, mas em alguns segundos, antes que ela pudesse começar a se preocupar com os danos do cigarro às cordas vocais dele, voltava a ser a mesma de sempre. Ele falava de pessoas do passado que ela demorava um pouco pra identificar, ela se lembrava subitamente de coisas muito antigas e ele acrescentava detalhes como se tudo tivesse acontecido a duas semanas. Ela pegava um papel pra anotar os filmes que ele tinha pra indicar, ele tentava decorar os livros que ela afirmava com toda certeza: “desse você vai gostar, prometo”. E riam dos outros e de si mesmos, e falavam do quanto a vida fora simples naqueles dias, tempos atrás, e do quanto não tinham preocupações e deveres, de como tinham sido felizes e mal sabiam. Ele falava por algum tempo, a cada ano, de como a família dela tinha sido importante. De como ele nunca mais se sentira tão confortável com uma sogra, uma cunhada, um cachorro. Ela sorria, sabendo que não tinha com quem compará-lo. Nestes momentos, e só nestes, a constatação vinha sem a dor.

Ela aprendera a ser sozinha, ele aprendera a não ser. Ela sempre perguntava se ele não tinha medo de não saber ficar de pé sozinho, de não conseguir caminhar com suas pernas sem muletas. Ela aprendera a associar relacionamentos a muletas. Ele respondia que só fica sozinho quem quer, ela não conseguia imaginar de onde ele tinha tirado aquela idéia. Uma vez ele até falou das barreiras que as pessoas criam pra não se envolverem, mas parou logo. Tinha medo que ela aprendesse e se livrasse da sua. E deixasse alguém entrar. E esquecesse.

Todo ano eles se despediam prometendo se falarem mais, se escreverem, se encontrarem. Sabendo que era tudo mentira. E se despediam prometendo que não se esqueceriam, não se apagariam, não se perderiam. Sabendo que era tudo verdade.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Minha loira

Eu acabei de ver aquele episódio de Grey’s que é a última parte de 3, que vocês disseram que choraram um monte... e eu não chorei, nem com o menininho, nem com o serial killer, nem com a Izzie. O que me tocou mesmo,e encheu o meu olho d’água... foi o McDreamy enfiar a Meredith chorando desesperada no carro e ir atrás da Christina, mesmo sabendo que elas estavam brigadas e tudo. Porque só ela ia entender, só ela ia dar jeito, só ela podia ajudar.

E aí eu pensei que isso é tão a gente, e que além daquele nosso combinado de “toma aqui a minha senha do Orkut, se eu morrer corre lá e apaga meu perfil antes que comecem a mandar mensagens póstumas”, a gente podia estabelecer mais isso, né? Que nossos presentes, passados e futuros McWhatever, sejam eles quem for, já fiquem avisados de que, “em caso de defeito ou pane no sistema, tratar diretamente com a parte competente”. Que o seu te traga correndo pra minha casa e vice-versa. Porque sempre vai existir aquela hora em que só a outra vai entender, em que só a outra vai saber, e vai chorar junto, e vai esvaziar uma garrafa ou dançar que nem louca pra extravasar. E porque a competência de tributar é exclusiva da União, honey. Christina Yang e Meredith Grey, Marissa Cooper e Summer Roberts e eu até diria Serena Von der Woodsen e Blair Waldorf, mas não sei se essas loucas continuam amigas ou se surtaram de novo.


Enfim, my point is: YOU ARE MY PERSON. Do início até o fim, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza (mesmo pq o Dono da Festa há de ter acabado com o período da pobreza, né possível). Pro que der e vier. “Se você quiser e vier pro que der e vier comigo”. E eu falo muito muito sério quando te afirmo que isso independe de amores, romances, matches, assistências técnicas, paixonites ou apenas distrações. Além da vida, neném. Além da vida. O nosso coração é asa!


Te amo mesmo e sempre.



ps: eu fui procurar uma foto pra ilustrar isso aqui, e revirei todos os meus arquivos atrás de alguma que fosse bonita, que tivesse significado e que, o mais importante talvez, não nos identificasse muito. E achei duas, e quando abri as duas pra escolher... eu não pude escolher. As duas têm história demais, e histórias que se relacionam de um jeito tão estranho e TÃO forte


1- o melhor dia seguinte da história dos dias seguintes. A melhor das viagens, a maior e melhor das loucuras, a maior das descobertas. "De repente 30", McLovers, "BC é vida". Nós, fazendo história.












2- pra mim, o início. Fantasiado de impulso e de loucura, como quase sempre é na nossa história. E formado por você, "graças a você" e ao SEU "re-início", reencontro, suas idas e vindas, sua história sem fim. Você lá no meu início, e você também "reiniciando", McPrinceCharming e McJoint, os melhores amigos e as melhores amigas??? Quem sabe? ;)

Nós, fazendo história. Sempre

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

As 3 palavrinhas

- E ele te chama de amor? Já tá nesse nível, de “amor da minha vida”?
- Não... Mas eu sufoco pelo menos uns três “eu te amo” por dia.
- Como assim???
- Ah, eu quase falo o tempo todo e aí engulo na última hora. Várias vezes, todo dia.

E eles fizeram um silêncio de choque, all eyes on me, arregalados, mal podendo crer no que eu tinha falado. E eu que falei tão normalmente! Até que todos disseram juntos:

- Aaaaah, que coisa linda! Gente, vocês acreditam nisso??? O coração de gelo!! O iceberg derreteu!
- Ah, mas é que “eu te adoro” é tão estranho, não se encaixa mais há tanto tempo!... É difícil ouvir “mulher da minha vida” ou “você é a pessoa que eu procurava” e responder qualquer coisa que não seja “eu te amo”. Não é que eu tenha pensado e analisado e chegado à conclusão de que eu realmente o amo, mas é que... é natural, é o meu instinto mesmo.
- Vem de dentro, né... Mas é assim que é pra ser!! Nossa, gente... ela tá amando de verdade.

Eu já tinha me acostumado a engolir as palavras. Fosse olhando nos seus olhos, fosse terminando um email, no final de uma ligação. Eu já achava normal segurar os meus instintos pra não te dizer o que teima tanto em sair da minha boca, o que me é tão natural, tão simples. Tão pequeno e tão grande. Eu já tinha me acostumado e ontem com o espanto deles eu tive que fazer contato.
São só 3 palavras. As mais repetidas ao redor do mundo, as mais banalizadas da história. A base pros melhores e piores poemas, pras mais lindas e mais ridículas declarações. Ele, o “eu te amo”. Tão banal, tão ordinário, e nesse momento, pra mim, such a big deal. Eu me segurando, eu mordendo os lábios pra segurar as palavras, eu sem conseguir pensar e sabendo: não é de se pensar. Não é de racionalizar, de fazer lista, de questionar. Não é a dúvida do “será que eu amo mesmo?” que me congela a fala. É a dúvida do “será que é a hora?”. Sabe, eu olho pra gente, pra essa nossa ânsia, pra essa nossa vontade incontrolável de se afogar um no outro, de beber no gargalo, de nos absorvermos por completo... eu vejo essa nossa volúpia e essa saudade que nos chega nos 2 minutos seguintes a cada despedida, que nos habita em cada uma das horas do dia que passamos separados... e tenho tanta vontade de que não acabe nunca. E tenho tanto medo de falar, de colocar em palavras e banalizar esse sentimento que agora é tão grande, que agora sufoca, que transborda e não permite disfarce. “E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei”
E eu sei, a gente sabe... um dia isso passa. E quanto mais se gasta mais rápido passa, e quanto antes se banaliza menos a mágica dura. E falar banaliza. E depois das, digamos, 10 primeiras vezes, o “eu te amo” não tem mais sentido nem força. Vira “pão com manteiga”. E agora, neste momento agora, neste tempo em que tudo borbulha e arde e rescende e dói, em cada uma das vezes que eu mordo os lábios pra não dizer as tais palavras ou seguro os dedos pra não digitá-las, eu sinto a força delas. Eu sinto pulsar, vibrar no meu peito, como uma chamada no celular pela qual se esperou muito. Iuuuuhu!... Somebody’s calling! I hope i’ts Mickey!....

Mas o fato é que sim: eu te amo, eu te amo, eu te amo. Pronto, falei.