segunda-feira, março 23, 2009

Quando eu aprendi a ler (e comecei a passar todas as minhas tardes lendo, enquanto as outras crianças brincavam de pique), ela ficava sentada do meu lado, 3 anos mais nova, livro de cabeça pra baixo, olhos apertados tentando entender o que ela nem imaginava como fazer.

- Mãe, eu tento adivinhar, tento adivinhar, mas não consigo!

Ontem ela se sentou chorando na ponta da minha cama e começou a falar do quanto ela queria ser eu, do quanto ela queria ser independente, e não precisar de uma família como eu, não depender de uma mãe, não segurar-se com tanta força na esperança de um futuro diferente. E falou do quanto ela se sente sozinha e perdida no mundo, e do quanto ela nunca sabe se tá fazendo o certo, e se o caminho é esse mesmo, sem ter ninguém pra por o dedo na cara, pra dizer se ela tá errando ou acertando, pra... guiar mesmo. “Eu sigo em frente sem saber se o que ouço são vaias ou gritos de alegria”, ela disse.

E a verdade é que eu sempre soube disso, eu sempre soube que esse dia ia chegar. Desde criança que eu olhava pra ela, se batendo pra estudar pra prova, jogando futebol preocupada com o meu pai assistindo de fora do campo, sem saber fazer o dever de casa... e eu já sabia, sabia que ela era uma pessoa que precisava ser cuidada e mandada e orientada mesmo, na vida. Mais que eu, pelo menos.

Agora ela cresceu o suficiente pra saber disso também. E pra se revoltar, e pra não aceitar esse destino de pai distante e mãe maluca, e pra querer o direito que a gente ingenuamente julga adquirido. De uma família normal, de alguém pra proibir e pra mandar na gente, de um colo, uma asa pra aquecer e proteger. Ela chegou àquele ponto que eu sabia ser inevitável e... e eu não tenho como preencher as lacunas e vazios que ela tem por dentro. E só eu sei o quanto eu queria fazer isso, o quanto eu queria poder... sei lá, colocar ela no meu colo e dizer que vai ficar tudo bem. Mas eu nem sei se ainda acredito que um dia vai ficar tudo bem.

Eu não sei aonde eu estava com a cabeça quando chegou a hora de encarnar e eu falei “ah, eu quero aquela família ali”. Sério mesmo.

quarta-feira, março 11, 2009

Mais uma declaração torta

Esse lugar já é a algum tempo a minha válvula de escape, às vezes a única, e eu já deixei, também a algum tempo, de me preocupar com a repetitividade dos temas, com a redundância das minhas palavras. Eu escrevo pra me esvaziar, nem que isso signifique fazer 10 textos sobre o mesmo assunto. Eu preciso é que ele se esgote em mim.


Sabe, às vezes eu tenho umas vontades inexplicáveis (como essa aqui) de te lembrar daquelas coisas que falamos todo dia. E hoje... hoje me deu uma vontade boba de vir aqui te dizer mais uma vez aquilo que já é tão óbvio e repetido: EU TE AMO.
E é muito, e é de verdade, e aquilo que você fala é tão recíproco: eu não consigo me ver sem estar te namorando, eu não consigo me ver não te amando. Eu não consigo me ver sem o seu peito pra deitar, sem a sua barba na minha nuca, sem o seu abraço, sem os seus olhos, o seu beijo. Eu não conseguiria mais olhar pra minha casa e não ter você no sofá, fumando na janela, vidrado no futebol, buscando outra cerveja na geladeira. Nem poderia olhar pra minha cama e não ver a sua cabeça no travesseiro do lado, a sua escova de dente no armário do banheiro, as suas roupas no meu guarda-roupa... Como naquele post da Ticcia que fala tudo: "E quando a gente vê, ama e ama e ama. E ama muito, e ama tanto, e a vida já não é só, e a vida é uma outra, cheia de coisas sem as quais você jamais poderia voltar a ser feliz."

Eu vim te dizer isso assim do nada porque às vezes eu me lembro da gente antes, ou leio algum email em que eu contava pra uma amiga que você tinha sumido sem explicação, ou lembro que apaguei todos os seus emails e mensagens no celular depois "daquilo"... e eu fico pensando em quantas vezes a gente ficou a um passo de se perder por aí, pelo mundo, talvez pra sempre. Nos braços de outros e outras quaisquer. E eu sei, a gente teria ido em frente e a vida teria tomado outros rumos e todos sobreviveríamos. Eu não tô dizendo que ia dar tudo errado, que eu não seria feliz, que o mundo ia acabar. Não ia, a gente sabe que não. A gente sabe que tudo daria certo, eventually, pra ambos. Fosse pelas baladas e bebedeiras da vida, fosse encontrando outra pessoa, fosse criando mais ou menos obstáculos nos futuros relacionamentos. A gente ia se virar, a gente ia se esquecer.

Mas eu não posso evitar o pensamento de que perderíamos tanto, de que deixaríamos de viver e aprender tanta coisa. Desde os milhares de testes à minha paciência aos quais você me submete diariamente, até as tantas e tantas horas deitada no seu peito. Desde as lágrimas e as discussões, desde o intenso e desgastante processo de adaptação, de ambos... até aqueles momentos em que a gente se olha e concorda, só com o olhar... que “se isso não é amor, o que mais pode ser?”. Desde as nossas diferenças insuperáveis, a sua insistência em me mudar e mandar e a minha completa e absoluta recusa em permiti-lo; desde o seu ciúme doentio e a minha insegurança latente... até o conforto indizível da presença, das ligações, dos emails, da cumplicidade. Eu olho pra cara do seu cachorro e não sei como seria o mundo se eu não visse mais aqueles olhos de desenho animado e aquele rabo de espanador que eu já amo tanto. Eu olho pros seus pais e vejo a naturalidade com que eles me incluem na família, o carinho nos pequenos gestos, o interesse deles na minha vida e no aumento da nossa convivência... eu vejo isso tudo e tenho vontade de chorar, de alívio por não ter perdido isso tudo e de medo de perder um dia. E aí eu olho pra mim e sinto tanto por não ter o mesmo pra te dar, por não ter uma grande família pra te apresentar e te oferecer, não ter pais presentes que façam questão de te conhecer e te incluir e te aprovar, não ter uma base sólida e ao mesmo tempo tão bonita quanto a sua.

Eu não sei como o meu gerente lá em cima fez isso (ou o destino, ou quem quer que seja). Nos envolvendo e disfarçando tudo de nós mesmos, nos prendendo um no outro e escondendo de nós, os personagens principais, a trama principal do filme. Olhando de fora parece que foi tudo calculado e planejado, parece que eu te dobrei e pus no bolso, te convertendo do falcatrua inveterado ao namorado mais apaixonado e dedicado que já vi. Mas se tivesse sido assim eu não teria tanta resistência, até hoje, ao compromisso, à dependência, às obrigações. Quando te falei “eu nunca quis namorar e eu não namoraria você”, não era blefe, nem tática. Era a verdade. Quando eu disse que tinha acabado pra mim e que eu não acreditava na mudança das pessoas, não era charme. Era a minha regra mais primordial.

Eu sei que foi uma questão de escolhas. De disposição, de acordos firmados. Você prometendo mudança, eu prometendo tentar. Você prometendo respeito e fidelidade, eu prometendo confiar. Alguém tem que ceder. Todos os dias. Mas mesmo tendo tanta consciência, e mesmo tendo me tornado a pessoa realmente racional e analítica que aprendi a ser ao longo do tempo, eu ainda vejo... alguma coisa muito alheia a nós, aos nossos planos, às nossas vontades, às nossas fraquezas. Algo que talvez aquela cartomante tenha previsto a uns anos atrás, algo que a gente não esperava e nem queria. O escrito certo nas linhas mais tortas.

Eu hoje não te falo tudo, omito pra não discutir, me finjo de boba quando convém. I’m learning you. E não é dissimulação, é diplomacia. Eu hoje não te mostro os meus escritos porque já sei que você não vai entendê-los do jeito certo (como todos os outros homens do mundo), e sempre vai se prender na frase errada, no meio de mil parágrafos certos. Eu não te conto do passado e eu sei que você não quer saber. Eu sei que você prefere fingir pra si mesmo que não existiram outros. E eu deixo. Mas te investigo, e quero saber tudo, mesmo que doa, do passado mais remoto ao presente mais recente. Eu traço o seu perfil sem pretender que não existisse vida antes de mim, é só assim que eu vou te conhecer de verdade. Eu fiz Direito, meu bem... eu sou a favor de todos os meios de prova e análise em juízo admitidos. E alguns não admitidos, porque formalismo é bobagem.

Eu hoje te amo de verdade e sem dúvida. Quase que sem medo. Eu hoje tenho absoluta certeza da reciprocidade disso. Eu não digo que seja pra sempre porque não acredito em pra sempre, eu não faço planos demais porque sei que amor não enche barriga, e sei que temos muito mais lados que não se encaixam do que qualquer outra coisa. Mas eu não troco isso aqui por nada. Nem mesmo por um relacionamento simples e sem brigas, nem pela minha antiga liberdade total. Eu não sei até que data nós vamos, até que ponto da estrada conseguiremos caminhar juntos, até quando pertencer um ao outro será a melhor escolha. Mas eu agradeço, de verdade. A Deus; ao destino; a quem quer que seja e a todas as partes envolvidas... a tudo que nos trouxe até aqui. Porque eu te amo, porque você me ama. E por que em dias como hoje isso compensa todo o resto.

sexta-feira, março 06, 2009

Do transitório

12.01

Eu vim pra casa dormir, depois da overdose de acontecimentos, palavras e sensações da noite. Mas eu não consigo dormir. O nó no meu estômago não me deixa, os calafrios não me deixam. A náusea, a dor de cabeça, o aperto no peito... me mantêm acordada virando de um lado pro outro na cama, procurando um jeito menos incômodo, procurando uma forma mais fácil de respirar. É o medo. E eu me pergunto se vou me ver livre dele algum dia, se vale a pena tentar, se... ah, eu me pergunto tudo.

Eu que não choro, eu que não sinto, eu que não amo. "Eu que não fumo queria um cigarro, eu que não amo você... Envelheci 10 anos ou mais nesse último mês" Eu que era tão boa nesse negócio de fuga, de recusa, de solidão. Era fácil ficar bem quando não tinha você sentado do meu lado e pegando na minha mão, era fácil sem olhar nos seus olhos, sem sentir o seu cheiro. Era fácil, tão mais fácil, quando eu não estava vendo a sua mão e querendo tanto segurá-la na minha com toda a força, quando eu não tinha que me lembrar e reconhecer à força que eu gosto mesmo e muito de você. Era tão mais fácil quando não doía assim, quando eu não tinha essa necessidade de ir lá fora chorar (que eu já não tinha a, sei lá, uns bons 5 anos), quando eu podia fingir pra mim que não sou tão doente e machucada assim, que é tudo normal. Era tão mais fácil quando eu não sabia que foi difícil pra você, do que você fez ao longo dessa semana, dos seus planos pra me surpreender, das músicas que você ouviu pra se lembrar de mim, de você sem poder ouvir Natiruts e só conseguindo ouvir Natiruts, de você dormindo no sofá assistindo o DVD que eu te dei. De você querer escanear a nossa foto e por no Orkut (helloooo, no Orkut?!), de você querendo me ligar pra qualquer coisinha. Era tão mais fácil quando eu não tinha ouvido você dizer “se você não enlouquecer quando ficar mais velha... você vai ser a mulher perfeita... pra casar”.

Você me ligou quando acordou, me disse dos planos pro seu dia, me deu satisfações como quem devia fazê-lo, como se... estivéssemos de novo juntos. Mais, como quem quer começar de novo com o pé direito e fazendo tudo bem direito. Eu não dormi. Você acordou ao meio dia e me ligou tão feliz, e eu mal dormi. E eu não queria acordar pra essa realidade e pra essa decisão, pra esse problema. Eu não sei se estou com você, se vou conseguir estar, se vai valer a pena tentar.

Eu preciso crescer. Eu sei que preciso, por mim, e não por você, trabalhar essa desconfiança e esse medo crônico de envolvimento, essa paranóia de traição, essa doença que eu vim alimentando ao longo do meu tempo tão sozinha. Talvez essa seja a minha chance de fazê-lo. Eu devo isso a mim, e talvez eu também o deva a você.

E ao mesmo tempo, por cima disso tudo, eu não posso parar a vida agora. Não quero olhar pra trás daqui a um tempo e ver que eu perdi a semana da formatura, que eu não me envolvi e não comemorei, que ocupei minha cabeça e meu tempo com qualquer coisa que não seja o mais importante agora. Pelo menos na minha vida, eu não acho que a "semana da formatura" vá se repetir, e eu não quero perder nada.

É por isso que eu reconheci e abracei a minha incapacidade de lidar com isso nesse momento. Porque não tenho outra escolha, porque não sei escolher. Eu sei, sei que você deve querer uma posição ou uma resposta, eu sei que você espera, eu até sei... que você mudou. Ou pelo menos quer mudar, de verdade, lá do fundo. Eu só não sei se posso abandonar assim as minhas convicções, se posso jogar minhas regras pela janela, se posso abaixar a guarda, despir a armadura. Todas as dúvidas nas quais eu não posso, simplesmente não posso pensar agora.

quarta-feira, março 04, 2009

Qualquer menina



Eu sei que qualquer menina seria melhor que eu em alguns aspectos. Eu sei que qualquer menina valorizaria mais, em determinados momentos, a sua dedicação e a questão que você faz de me priorizar, de estar sempre comigo, de me apresentar pra todo mundo e me levar em todo e qualquer evento, de me incluir na família. Eu sei que qualquer menina compartilharia tudo de bom grado, te contaria cada detalhe do dia e te daria todas as possíveis satisfações e informações mesmo que você não pedisse. Eu sei que qualquer menina largaria turma, amigas, programas e afins, eu sei que qualquer menina andaria na linha e com rédea bem curta, e portanto corresponderia tão melhor que eu ao que você espera. E não daria nem um passo sem a sua presença, e não faria questão de conservar antigos laços, e faria da sua turma a única turma, dos seus amigos os únicos amigos, dos seus planos os únicos planos. Eu sei que qualquer menina se adaptaria e se moldaria a você como uma roupa feita sob medida, sem reclamações e ressalvas, achando um bom danado o fato de ter um namorado tão dedicado e tão disposto, reconhecendo o privilégio de ter alguém que quer estar junto o tempo todo.

O problema é que eu não sou qualquer menina. Eu não sou moça de família, eu não preciso da aprovação dos pais e familiares, eu não tenho hora pra chegar em casa, determinados dias pra sair, regras e limites. O meu pai não me liga pra saber onde eu estou. Ele está a mais de mil quilômetros de distância e ele raramente sabe onde eu estou. E a minha mãe... dela eu não preciso falar, você já sabe. O fato é que eu não tenho e mal me lembro de um dia ter tido alguém pra me mandar, pra me dizer onde ir, o que fazer, como agir. Eu sempre devi satisfações a uma única cabeça: a minha. E se por um lado é um milagre que eu tenha crescido normal e saudável e com consideráveis bom senso e sanidade mental, por outro... eu sei que essa ausência de pai e mãe me tornou uma pessoa bem “desadaptada”a algumas coisas. E foram raras as vezes em que isso foi um problema antes. Ou melhor, foram raras as vezes em que eu não soube lidar com esse problema.

Pouco me importa que os meus pais e avós, primos e tios e familiares te aprovem. Francamente, não cabe a eles aprovar nada. Me importa (muito mais do que importaria a qualquer outra namorada que você tivesse) que a minha irmã e os meus amigos te aprovem. Não todos, mas aquele seleto grupo. Isso porque são eles que eu tenho na vida, eles sim são a minha família. Num grau em que, por ter a sua, você não entenderia. E eu nem espero que entenda. Eu só espero que respeite e saiba que eu não vou abandonar nem vou abrir mão de nada que se relacione a eles (e eu realmente acredito que você não quer isso de mim).

E eu vou entender se por acaso você decidir que não quer uma menina assim. Eu sei que não é simples. Mas se quiser tentar, e se me cabe prometer alguma coisa, eu prometo não te prender e não te limitar, não grudar no seu pé, não cobrar a sua atenção absoluta e nem a sua presença constante. Eu prometo respeitar o seu espaço, o futebol, os programas masculinos. Eu prometo fazer questão que eles aconteçam. Eu prometo não ser moralista ou possessiva, não te pedir senhas, não rasgar suas fotos antigas. Prometo não fazer papel de mãe e prometo até não chorar demais (tá, essa parte eu prometo tentar, pode ser?).

E sem medo de falar demais, eu te prometo fidelidade e lealdade, companheirismo, emails longos e ligações no meio da tarde, até que você se canse das minhas palavras. Eu prometo muita música e muita foto bonita, muitas das minhas criativas declarações. Eu prometo não te traumatizar, não te afastar das pessoas que são importantes pra você, não te ligar oitocentas vezes seguidas, não brigar demais. Prometo que meu coração é bom e sempre vai ser, prometo que você nunca vai ter que ouvir ninguém dizer o contrário (a não ser a minha mãe, talvez... mas nunca o seu amigo mais antigo).

Mas principalmente, eu te prometo não mudar demais, não me anular, não me apagar, não me perder pelo caminho. Nem te anular, nem te apagar, nem te mudar demais, nem te perder pelo caminho. Eu te prometo o respeito. E prometo te dar o melhor de mim, e garanto que esse melhor é muita coisa.

Eu só te peço paciência, eu só te peço que me aceite e tente entender. Os meus silêncios, os meus princípios, as nossas diferenças. E que não me compare e não espere que eu seja como qualquer outra menina, porque isso eu já sei que eu não posso ser.

E pensando bem... você também não é qualquer cara, pra namorar qualquer menina. Né?

Te amo.