sexta-feira, setembro 28, 2007


Apenas goste de mim. Me sorria discreto quando todo o resto do mundo não estiver olhando. E me sorria também quando todo mundo olhar, com um jeito de quem faz piada interna, pra que eu me sinta mais importante que o resto.
Goste de mim mesmo de óculos e cabelo preso pra cima, goste de roupas específicas do meu guarda roupa. Goste das minhas palavras, do meu jeito criativo de elogiar, das minhas menores ou mais elaboradas declarações de amor. Não aceite todos os meus depoimentos, mas não tenha coragem de apagá-los.
Goste das coisas que eu não gosto no meu corpo, adore as que eu já aprendi a gostar. Guarde as minhas mãos nas suas com cuidado, segure meus pulsos como se fossem realmente frágeis, mas me aperte com força me puxando pelos cabelos como se quisesse se fundir em mim. Me deseje em momentos inoportunos, me leve embora no meio da festa só porque não pode esperar mais. Me entenda sem palavras, me repreenda em silêncio de vez em quando, porque no fundo eu preciso sentir que pertenço a alguém. Goste das minhas piadas e incorpore-as ao seu vocabulário. Faça as suas.
Goste de música. Pelo amor de Deus, goste muito de música, entenda de música e tenha bom gosto. Toque violão, guitarra, baixo, bateria, qualquer coisa. Goste de Los Hermanos, mesmo que não assuma. E goste da minha voz, principalmente quando eu cantar baixo e só pra você.
Goste de me olhar. Dançando, lavando louça, lendo, bebendo, falando. Me desconcerte com esse olhar insistente. Procure as minhas mãos por debaixo de mesas e cobertores.
Seja meu maior cúmplice. Ame a minha vitrola e meu carro velho, meus óculos vermelhos, meu cabelo. E goste também dos meus silêncios, ou pelo menos entenda-os.
Me compre doces, respeite minha TPM, enxugue minhas raras lágrimas. Beije meus muitos sorrisos.
Goste dos meus amigos mas saiba enxergar os defeitos deles. Respeite. Goste dos meus pais e de quem estiver com eles. Mas fique sempre do meu lado.

Goste de mim do jeito que eu sou e do jeito que vou me tornando a cada dia. Goste de mim, com doçura, com força, com sinceridade. E só.



**Imagem: Dream of the Hungry Ghost (2003) Colette Calascione - Oil on Wood

quinta-feira, setembro 20, 2007

Post originalmente publicado (por uma das versões anteriores de mim) em: [4.1.05 5:37 PM]


Já faz um tempo que tô querendo contar isso aqui: Numa das ruas perto de onde eu moro tem um prédio bem na esquina. Um dia, quando tava passando por lá, eu vi escrito no chão, em tinta azul, na frente de portão de saída:

BOM DIA MEU AMOR!!!!

Fui seguindo o chão com os olhos e alguns passos à frente tava escrito

TÁ TUDO CINZA SEM VOCÊ....

Mais uns passos e:

TÁ TÃO VAZIO.....
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A NOITE FICA SEM PORQUÊ!!!!......

E seguindo a curva, entrando em outra rua:

AONDE ESTÁ VOCÊ??
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ME TELEFONA!!!! ME CHAMA, ME CHAMA, ME CHAMA!....



Achei aquilo lindo demais e fiquei imaginando a cena da mulher saindo do prédio de manhã, indo pra aula, pro serviço ou sei lá pra onde, e vendo escrito pela calçada esses versos que o namorado, ou marido, ou.... Bom, esses versos que o amor dela escreveu...

E como eu sei que foi um homem que escreveu? Alguns metros à frente, dessa vez no meio da rua e com tinta branca (e em letras bem maiores)

CRIS
EU SEMPRE TE AMEI
TE AMO
E VOU TE AMAR PRA SEMPRE.
DO SEU VI



Eu até hoje sinto um arrepiozinho gostoso quando passo por lá e vejo essa declaração... Tá bom, pode ser que tenha sido uma tentativa do cara de se desculpar, pode ser que ele tenha aprontado todas e aí decidiu fazer esse apelo pra reconquistar a tal Cris.... Pode ser que o Vi seja um safadocachorrosemvergonha! Ah, mas façam como eu e dêem um tempo pro ceticismo e para os pré-conceitos, vamos nos ater por um momento ao quanto O AMOR É LINDO!!!!!!

Aaaiai....

terça-feira, setembro 18, 2007






Chega uma hora em que tudo tem mesmo que acabar. Até aquelas ilusões e fantasias adolescentes que a gente conservava e fazia questão de guardar com cuidado no pote de ouro escondido na prateleira mais alta. Mesmo os tesouros, mesmo as jóias. Porque no fim, era tudo mesmo bijouteria. E o castelo era de vapor, o anel que tu me destes era vidro e se quebrou, e até o príncipe era pior que sapo, era como o Prince Charming do filme do Shrek, só que em modelo indie/alternativo.
E a Fiona nunca imaginava que ao formular uma declaraçãozinha discreta (criativa, mas discreta) ia derrubar no chão a máscara do suposto príncipe, rasgando o último livro de fábulas que restava no baú. Nunca imaginava que ao cometer aquela ousadia, tão diferente de seu padrão quase puritano, a porta faria o movimento inverso do imaginado, se fechando com um estrondo. E por iniciativa dela.

Agora você tá livre, princesa. Não precisa mais do fajuto e patético mecanismo de compensação, não precisa mais sintonizar o radar pra que procure apenas sósias dele, porque ele.... bom, resta comprovado que ele não era ELE. Agora você não precisa mais se iludir pensando que os músicos são os mais fodas, que os magrelos de cabelo cacheado são os mais charmosos, que vale a pena conservar o perfil de Maria Banda. Sim, provavelmente você ainda o conserve, porque de entender a mudar existe um caminho, e ele nem sempre é curto... Mas não precisa mais existir o padrão, a regra geral! Lembra que todas as regras têm sido abandonadas?
Pois bem, você tá livre, princesa. Pode voltar a crescer.

terça-feira, setembro 04, 2007

Só hoje me contaram que o Irati foi embora. Que ontem fez discurso lá na frente da sala, que tava até falando baixo, que parecia que ia chorar... e que foi triste. A burra aqui que só falta aula nos dias errados perdeu a chance de dar uma chorada e um bom abraço naquele piá. Ô menino bom esse Irati, Jesuis.
E fiquei pensando nessas coisas malucas da vida, nessas guinadas que a estrada dá e a gente nunca espera. Tava lá ele fazendo piada todo dia, às vezes falando alto como se estivesse no buteco, acordando de cara amassada depois de dormir a manhã inteira ou perguntando e prestando muita atenção. Sempre oito e oitenta. Era ele que tinha as melhores sacadas, que tinha o humor mais inteligente, o melhor sorriso, o bom humor constante. Me lembrei que quando entrei naquela faculdade e via aquele bando de burguês sem educação dessa cidade me olhando torto, ele veio logo no primeiro dia se oferecer pra ajudar em tudo que fosse preciso. “Meu nome é Gustavo, tudo bom? Olha, vcs podem contar comigo pra tudo que precisar” Acho que nem entendi na época a raridade que isso representava.

Enfim, o Irati era uma dessas pessoas que a gente pensa que vão durar pra sempre. Era ele o orador da colação e ninguém duvidava, era ele a estrela de todas as festas, incontestavelmente. A formatura era dele, 30 vezes mais dele do que nossa. Era ele a cola que unia aquilo tudo junto, aquele povo tão diferente, tão intolerante, tão.... incapaz de criar laços. E ele era o próprio laço. Continua sendo, eu sei, onde quer que esteja. Mas agora não vai estar ali na fileira do lado todo dia, agora não vai mais entrar na minha frente do meio do corredor cantando “F. P. D. dos Reis – mais uma vez, mais uma vez!”, não vai mais falar as coisas certas nas horas certas. Putalamerda, vai fazer falta hein, my brother?!

E lá se vai mais uma daquelas certezas...